Bioética e Alma: A compreensão da essência humana como fator determinante das respostas éticas buscadas nas ciências da vida.

15-12-2010 10:17

 

 

 

 

 

Lissandra Christine Botteon.
Advogada. Pós-graduada em Direito Processual pela PUCMinas. Membro da Comissão de Bioética e Biodireito da OAB/MG. Membro da Comissão de Cuidados Paliativos da SOTAMIG.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em tempos em que dores ditas de fundo emocional não conseguem diagnósticos precisos e ainda, em tempos em que Chico Xavier brilha nos cinemas, a questão da existência da alma ressurge, convidando a reflexões, as quais influem, sobremaneira, em assuntos como o aborto, a eutanásia e outros tantos relativos à Bioética.

O escopo aqui é questionar como a aceitação da existência da alma pode determinar diferentes respostas nos estudos da Bioética.

O reconhecimento da existência da alma determina soluções diferentes aos embates morais enfrentados pela Bioética. Veja-se a anencefalia, por exemplo. Pugna-se pela legalização do aborto nestes casos. Em existindo a alma, perguntar-se-ia porque esta alma já pré-concebida ao corpo nasceria em um invólucro adoentado e com deformidades? Se a alma tem uma missão individual, o aborto provocado não alteraria o propósito da alma na Terra? Não se estaria alterando o curso da evolução do ser espiritual?

E quanto aos seres recém-concebidos? A alma já não estaria ligada aos embriões desde a concepção? Se a alma se liberta, em tese, com a morte, a crioconservaçao a encarceraria durante o período do congelamento?

Sentiria a alma alguma forma de dor? Se hodiernamente o momento é o das doenças psicossomáticas, resultantes do estresse, do remorso, da culpa e etc., refletindo estes diretamente no corpo, porém sem correspondentes diagnósticos físicos, porque não conceber que a alma, quando liberta, não conserva este estado e leve consigo estas dores? As dores morais que se carrega durante a própria vida não poderiam seguir com a alma sendo a ela inerentes? A eutanásia permitiria a redenção da alma ou poderia tais dores a acompanhar após a morte? A eutanásia seria remédio ou prolongamento do sofrimento?

A percepção da vida terrena como um transitório momento existencial da alma determina posicionamentos diferentes frente aos mais discutidos temas da Bioética. E isto porque a ética da vida passa a não ser mais a ética do corpo e, sim, a ética da existencialidade.

Hodiernamente não é mais apenas intuitiva a idéia da transcendentalidade da essência humana. A ciência, a psicologia, a medicina e outros tantos campos cada vez mais reforçam que o “homem total” é constituído por corpo, mente e espírito e fechar os olhos para esta realidade é negar a evolução do próprio ser. Necessário afastar o medo do desconhecido. São inúmeros os reflexos desta realidade na Bioética, necessitando-se reavaliar os conceitos e soluções que se tem adotado.

 

Referências Bibliográficas

- CONSELHO ARQUIDIOCESANO PRÓ-VIDA. Bioética: vida e morte. Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 2008.

- CAJAZEIRAS, Francisco. Bioética: uma contribuição espírita. 2a Ed.–Capivari-SP: Editora EME, 2004.

 

 

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